sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Quando chegamos ao Km mais difícil


Pois é, a vida segue seu rumo por caminhos que nem sempre podemos entender.


Depois daquele último dia em Amsterdam, que a Débora descreveu como perfeito e eu concordei plenamente, voltei ao Brasil. Mal deu tempo de ver o pessoal em SP eu já tive que voltar a Jaraguá do Sul onde um montão de trabalho me esperava. No esporte a sorte não esteve muito do nosso lado, com o Juve empatando um jogo e perdendo outro, e a Malwee perdendo em casa para a Krona. Mas tudo isso é normal e faz parte do esporte.


O triste mesmo ficou por conta do Roberto, meu grande amigo que sofreu a perda inestimável de sua mãe ontem. Recebi sua ligação quando já estava em trânsito para a Serra Gaúcha e fiquei completamente vendido. Sem poder ir a SP a tempo de estar com ele neste que deve ser o momento mais difícil de sua vida e sem ao menos poder dizer alguma coisa que pudesse chegar perto de consolar o inconsolável. Este é mais um daqueles momentos em que me pego pensando o que eu to fazendo da vida. Longe da família, longe dos amigos...


Mas eu acho que seria legal lembrar de uma passagem muito bacana que tive com o Roberto. Na verdade foram muitas, mas esta com certeza ficou marcada para nós dois. Em 2007 estavamos no pique de correr bastante. Fazíamos provas, treinávamos e nos divertíamos bastante praticando este esporte que te leva de nada a lugar nenhum, mas que mesmo assim gostamos tanto.


Então no mês de junho decidimos correr um trecho da Maratona de São Paulo. Havia possibilidade de fazer 10km, 21km ou 42,195km. Ele passou lá em casa, deixou o carro na frente do prédio e fomos à pé ao Ibira. No caminho paramos na padaria para um café bem saudável, que se resumiu a um queijo quente e uma Coca-Cola cada um.


Saímos de lá dispostos a correr 10km, quiçá 21km. Obviamente não tínhamos inscrição. Então nos enfiamos ali na muvuca e largamos com a massa. Fomos correndo até que chegamos à primeira decisão. Se quiséssemos correr apenas 10km teríamos que virar à esquerda, caso contrário deveríamos ir reto. Fomos reto para tentar 15km ou 21km.


Continuamos muito bem, tranquilamente, por mais uns bons minutos, até que a segunda decisão teve que ser tomada. 21km ou vamos para os 42km? Então o japa solta: "Até o chão!", e assim fomos. A intenção não era completar a maratona, mas como ele bem resumiu, ir até onde desse.


Fomos bem até a Cidade Universitária. Ali eu sabia que era o trecho crítico, pelo que havia ouvido muitos colegas de corrida relatarem. E conosco não foi diferente. Parece que fomos derretendo lá dentro. E num dado momento pensamos em colocar objetivos menores que os 42,195km, mas mesmo sem falarmos qualquer coisa, era para isto que estávamos ali. Estávamos correndo a maratona, e desistir seria muito ruim para qualquer um de nós.


Continuamos com o cansaço cada vez maior e as dores começando a aparecer. A saída da Cidade Universitária e finalmente os túneis. Ali foi onde a dificuldade bateu mais forte. Parecia que os túneis com iluminação precária sugavam a energia de quem se atrevia a chegar até lá. Na Juscelino também não foi moleza, mas conforme nos aproximávamos do parque e do final da prova uma força maior parecia que ia tomando conta de tudo. Era quase como colocar no piloto automático. E quando saimos do último túnel, cerca de 1km antesa da chegada, parecia que estávamos completamente descansados. Acho que foi uma mistura de endorfina com adrenalina e talvez até a cafeína da Coca-Cola, mas ali acho que todas as "inas" do bem foram produzidas em larga escala para transformar aquele último quilômetro em pura satisfação. Demos até sprint na reta final...


Ali, com aquele arrepio de missão cumprida, que por vezes quase se transforma em lágrimas de alegria por conquistar um objetivo tão difícil, o Roberto aprendeu uma lição que eu havia aprendido 8 anos antes. Quem completa uma maratona pode conseguir qualquer coisa na vida.
E eu espero que mesmo estando ausente neste momento de intensa dor ele possa tirar daquele momento que passamos juntos um pouquinho de força, não para superar uma dor que nunca passa, mas para simplesmente seguir em frente...

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