sábado, 3 de outubro de 2009

O Brasil e os grandes eventos esportivos


Mais uma vez o Brasil conquistou uma grande vitória no esporte, fora das áreas de competição. Depois de sediar o surpreendentemente bem organizado Pan-americano e de conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014, venceu a difícil disputa para abrigar as Olimpíadas de 2016.

Nem mesmo o Presidente pop-decadente Barack Obama, que defendia a candidatura de Chicago (My Kind of Town) foi capaz de segurar o furacão tupiniquim. E aos poucos Tóquio e Madri também foram ficando para trás. É claro que isto é sintomático, o Brasil está na moda. Mas a questão que fica é: qual o legado de uma olimpíada para o país do futebol?

Quando se fala em evolução de uma cidade provocada pelo esporte, o caso mais clássico é de Barcelona, que sediou os Jogos Olímpicos de 1992 (sim, aqueles mesmo do Gustavo Borges). A cidade, que segundo quem a conhecia, era ultrapassada e suja, transformou-se em uma verdadeira metrópole mundial. Pouco antes de visitá-la pela primeira vez, conversando com o bicampeão olímpico Maurício Lima, do vôlei, durante o Pan, no Rio de Janeiro, ele exaltava a organização e as instalações do Pan, dignas de uma Olimpíada.

Pois assim que o Pan terminou viajei a Europa com a Camila e uma das primeiras cidades que conhecemos foi exatamente a capital da Catalunha. Ficamos impressionados com o quão moderna ela é, mas também pudemos constatar que algumas das instalações Pan-americanas realmente estavam à frente das olímpicas, com destaque ao Engenhão, que supera o Estádio Olímpico de Barcelona sem a menor cerimônia. Claro que estamos comparando uma edificação de 1992 com outra de 2007, mas dada a diferença de grandeza entre os eventos e de prosperidade entre os países, a vantagem brasileira me surpreendeu.

Com relação aos ginásios construídos para os dois eventos, a vantagem também é brasileira, com a Arena Multiuso dando um verdadeiro banho em sua similar espanhola. Mas o ponto não é qual estádio, ginásio ou piscina é mais moderno. A grande questão é o qual a herança que fica para o país sede, afinal de contas todo o investimento e esforço empenhados devem deixar muito mais do que um monte de concreto.

Obviamente todos os 25 bilhões de reais investidos nas Olimpíadas cariocas gerarão milhões de empregos em todo o Brasil, melhorando a qualidade de vida de muitas famílias, o que por si já serve como uma boa desculpa para tamanha “excentricidade”, afinal de contas de uma certa maneira gerar empregos é muito melhor do que a política assistencialista demagoga adotada pelo Governo Lula ao longo de todos estes anos. Mas um evento deste tem que deixar uma herança que, embora se proclame o contrário, o Pan não foi capaz de deixar.

É preciso tocar o âmago da cultura brasileira. Não apenas carioca, mas de todo o país. É preciso poder andar com segurança nas ruas do Rio de Janeiro. É preciso ter um transporte público que atenda com dignidade a população e os turistas, que ao contrário do que se pensa não querem e não são acostumados a andar somente de táxi. É preciso que em uma das cidades com maior potencial turístico de todo o mundo, e sem dúvida a mais bela em recursos naturais, ao menos se possa ser atendido em inglês e em castelhano. É mais do que preciso que se entenda que não é agradável sentar-se em um belo quiosque à beira-mar, com garotos pedindo esmola a todo momento e pseudo-artistas tentando de todas as formas levar um troco.

Este é o grande legado dos Jogos Olímpicos. E dá tempo para se fazer muito. Está na hora dos jornais pararem de ir pesquisar o que os argentinos acharam da eleição do Rio e se virarem para as comunidades mais carentes da Cidade Maravilhosa para perguntar o que eles entendem de tudo isto e o que esperam que melhore em suas vidas. Já nos sentamos demais para apontar o dedo para os outros. O Brasil não está apenas nos pés dos gringos e gringas descolados. Ele está também na cabeça. O Rio de Janeiro é, sim, o nosso cartão postal, mas já está na hora de ser muito mais. E o esporte pode ser o passaporte para sua evolução e revolução. São os três maiores eventos possíveis em apenas nove anos. Um fato inédito em todo o mundo.

O Pan-americano mostrou que o país pode sediar grandes eventos, mas pouco deixou para a cidade além de boas recordações e uma grande estrutura que se deteriora diariamente. A Copa do Mundo de 2014 é vista e tratada como a grande cachaça do povo, apesar de poucos se darem conta disso. Ela também mostra como ainda estamos despreparados para regras rígidas. Vide o caso do Morumbi, em que a diretoria do SPFC achou mais fácil, em princípio, tentar enganar o povo e jogá-lo contra a FIFA do que apresentar uma proposta decente, que demorou a sair. E aí vai uma verdade que se pode constatar em qualquer lugar desenvolvido onde o futebol é tratado com seriedade: o Morumbi é uma charrete, e o Maracanã um fusca gigante! Até Wembley já foi para o chão!!!

Resta agora que a organização dos Jogos Olímpicos não incorra nos mesmos erros e dê ao Brasil muito mais do que pão e circo.

2 comentários:

  1. Amigo Denis,

    Como sempre seus artigos muito bem esclarecedores,
    Vejo que a modernidade vem com a vontade de muito trabalho, dedicação , também vejo que muito se irá gastar com estádios ja ultrapassados em suas reformas, seria muito melhor que se construisse outros tantos para o melhor do futebol, em relação as Olimpíadas vejo que torceremos para o Rio de Janeiro se tornar uma verdadeira metrópole.
    Um abraço.

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  2. olha bor, o rj não tem hospital pra atender a própria população... é muita coisa envolvida e eu não consigo achar que esses eventos serão benéficos. Só sei que muita gente vai ganhar com isso e eu quero ganhar também.
    beijo

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