quinta-feira, 15 de outubro de 2009

La Noche del 10

Uma vez, há alguns anos, mandei um e-mail para um programa argentino chamado “La Noche Del 10”. Ele era apresentado por ninguém menos que Don Diego Armando Maradona, um dos grandes gênios do futebol. Acho que foi a única vez que fiz isto na minha vida. Nunca fui de ficar mandando e-mails, cartas ou ligando para programas de TV.

Para deixar claro, sou Pelé até a morte, mas admiro também os outros gênios do futebol, e o Maradona, sem dúvida, é um deles. Mas eu acho que com aquela vitória da Argentina sobre o Uruguai fechou-se um ciclo muito mais importante e não tão comentado. O ciclo da recuperação. É claro que não é surpresa a Seleção Argentina conquistar uma vaga na Copa do Mundo. Aliás, a vaga é dela. Assim como a do Brasil é dele. O estranho seria uma destas equipes não se classificarem.

Mas e o cara que foi o melhor do mundo, depois passou por uma fase ruim com drogas, voltou muito bem na Copa do Mundo de 1994, foi punido por doping, passou por toda sorte de desventuras, até voltar à Seleção como treinador e levar o time à Copa do Mundo de 2010? E se ainda pensarmos que nas duas últimas partidas os gols saíram dos pés de jogadores que ele colocou para jogar no meio da partida? Será que ele não tem méritos como técnico? E se pensarmos em uma Argentina jogando totalmente fora de suas características por um bem maior, como aconteceu ontem? Será que qualquer outro treinador conseguiria fazer a albiceleste jogar aplicadinha na defesa, jogando com o bumbum na trave?

E vale gastar alguns minutos refletindo sobre a coragem do Maradona, afinal de contas poucos jogadores aceitaram correr este risco, e muitas vezes nós, pessoas comuns, com muito mais a provar, acabamos nos acovardando frente aos desafios mais simples. Mas talvez esta seja mesmo a diferença entre pessoas comuns e grandes gênios.

No fim, fica a vontade de ver o Maradona colocar a cereja neste bolo e participar de mais um Mundial, desta vez comandando sua equipe do banco de reservas. E só para registrar, a Seleção Brasileira se classificou para a Copa do Mundo de 1994 desacreditada como a Seleção Argentina, e ganhando do Uruguai...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

As belezas do caminho


Depois de um Sul-Americano cansativo na Argentina e um fim de semana simplesmente perfeito em São Paulo, voltei a Jaraguá do Sul de ônibus, chegando hoje (13/10), às 5h00. Às 13h00 já estava no ônibus novamente, desta vez com destino a Criciúma (SC), onde jogaremos pelo Estadual à noite, voltando a Jaraguá em seguida. Vale lembrar que cada perna desta viagem dura 5 horas.


De qualquer forma, a foto acima é para lembrar a mim mesmo que não posso pensar apenas no objetivo e não aproveitar o caminho. A foto acima não está bem feita, até porque tirei com o ônibus em movimento, depois de dormir por duas horas, mas serve para ilustrar a vista que teria perdido caso me mantivesse de olhos fechados. Florianópolis.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Brasil e os grandes eventos esportivos


Mais uma vez o Brasil conquistou uma grande vitória no esporte, fora das áreas de competição. Depois de sediar o surpreendentemente bem organizado Pan-americano e de conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014, venceu a difícil disputa para abrigar as Olimpíadas de 2016.

Nem mesmo o Presidente pop-decadente Barack Obama, que defendia a candidatura de Chicago (My Kind of Town) foi capaz de segurar o furacão tupiniquim. E aos poucos Tóquio e Madri também foram ficando para trás. É claro que isto é sintomático, o Brasil está na moda. Mas a questão que fica é: qual o legado de uma olimpíada para o país do futebol?

Quando se fala em evolução de uma cidade provocada pelo esporte, o caso mais clássico é de Barcelona, que sediou os Jogos Olímpicos de 1992 (sim, aqueles mesmo do Gustavo Borges). A cidade, que segundo quem a conhecia, era ultrapassada e suja, transformou-se em uma verdadeira metrópole mundial. Pouco antes de visitá-la pela primeira vez, conversando com o bicampeão olímpico Maurício Lima, do vôlei, durante o Pan, no Rio de Janeiro, ele exaltava a organização e as instalações do Pan, dignas de uma Olimpíada.

Pois assim que o Pan terminou viajei a Europa com a Camila e uma das primeiras cidades que conhecemos foi exatamente a capital da Catalunha. Ficamos impressionados com o quão moderna ela é, mas também pudemos constatar que algumas das instalações Pan-americanas realmente estavam à frente das olímpicas, com destaque ao Engenhão, que supera o Estádio Olímpico de Barcelona sem a menor cerimônia. Claro que estamos comparando uma edificação de 1992 com outra de 2007, mas dada a diferença de grandeza entre os eventos e de prosperidade entre os países, a vantagem brasileira me surpreendeu.

Com relação aos ginásios construídos para os dois eventos, a vantagem também é brasileira, com a Arena Multiuso dando um verdadeiro banho em sua similar espanhola. Mas o ponto não é qual estádio, ginásio ou piscina é mais moderno. A grande questão é o qual a herança que fica para o país sede, afinal de contas todo o investimento e esforço empenhados devem deixar muito mais do que um monte de concreto.

Obviamente todos os 25 bilhões de reais investidos nas Olimpíadas cariocas gerarão milhões de empregos em todo o Brasil, melhorando a qualidade de vida de muitas famílias, o que por si já serve como uma boa desculpa para tamanha “excentricidade”, afinal de contas de uma certa maneira gerar empregos é muito melhor do que a política assistencialista demagoga adotada pelo Governo Lula ao longo de todos estes anos. Mas um evento deste tem que deixar uma herança que, embora se proclame o contrário, o Pan não foi capaz de deixar.

É preciso tocar o âmago da cultura brasileira. Não apenas carioca, mas de todo o país. É preciso poder andar com segurança nas ruas do Rio de Janeiro. É preciso ter um transporte público que atenda com dignidade a população e os turistas, que ao contrário do que se pensa não querem e não são acostumados a andar somente de táxi. É preciso que em uma das cidades com maior potencial turístico de todo o mundo, e sem dúvida a mais bela em recursos naturais, ao menos se possa ser atendido em inglês e em castelhano. É mais do que preciso que se entenda que não é agradável sentar-se em um belo quiosque à beira-mar, com garotos pedindo esmola a todo momento e pseudo-artistas tentando de todas as formas levar um troco.

Este é o grande legado dos Jogos Olímpicos. E dá tempo para se fazer muito. Está na hora dos jornais pararem de ir pesquisar o que os argentinos acharam da eleição do Rio e se virarem para as comunidades mais carentes da Cidade Maravilhosa para perguntar o que eles entendem de tudo isto e o que esperam que melhore em suas vidas. Já nos sentamos demais para apontar o dedo para os outros. O Brasil não está apenas nos pés dos gringos e gringas descolados. Ele está também na cabeça. O Rio de Janeiro é, sim, o nosso cartão postal, mas já está na hora de ser muito mais. E o esporte pode ser o passaporte para sua evolução e revolução. São os três maiores eventos possíveis em apenas nove anos. Um fato inédito em todo o mundo.

O Pan-americano mostrou que o país pode sediar grandes eventos, mas pouco deixou para a cidade além de boas recordações e uma grande estrutura que se deteriora diariamente. A Copa do Mundo de 2014 é vista e tratada como a grande cachaça do povo, apesar de poucos se darem conta disso. Ela também mostra como ainda estamos despreparados para regras rígidas. Vide o caso do Morumbi, em que a diretoria do SPFC achou mais fácil, em princípio, tentar enganar o povo e jogá-lo contra a FIFA do que apresentar uma proposta decente, que demorou a sair. E aí vai uma verdade que se pode constatar em qualquer lugar desenvolvido onde o futebol é tratado com seriedade: o Morumbi é uma charrete, e o Maracanã um fusca gigante! Até Wembley já foi para o chão!!!

Resta agora que a organização dos Jogos Olímpicos não incorra nos mesmos erros e dê ao Brasil muito mais do que pão e circo.