
Rubens Barrichello é um nome que sempre causa bastante discussão em um país onde ao lado de 170 milhões de treinadores de futebol há o mesmo número de comentaristas de Fórmula 1, credenciados, é claro, por oito títulos mundiais conquistados por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e pelo grande mito Ayrton Senna. Eu, como um entre tantos “comentaristas”, e que me desculpem Lito Cavalcanti, Reginaldo Leme, Claudio Carsughi, Téo José entre outros, também estou aqui para dar o meu pitaco. Mas quero falar um pouco sobre este piloto que foi duas vezes vice-campeão correndo ao lado do maior de todos em números, Michael Schumacher, não pelo brilhante fim de semana na Itália, nem pelo brilhante fim de semana na Espanha, ou talvez pelo bom fim de semana na Bélgica. Eu quero voltar um pouco mais no tempo.
Acho importante lembrar do Rubens de 6 anos de idade que ganhou seu primeiro kart do avô, e só conseguiu apoio de seu pai após as três primeiras corridas, que lhe renderam um treceiro lugar, um segundo, e sua primeira vitória, respectivamente. Ali o Rubão viu que seu moleque levava jeito pra coisa. E foram nada menos que 8 temporadas com cinco conquistas nacionais e três vice-campeonatos. Nada mal para um garoto com condições financeiras abaixo da média dos concorrentes.
Em 1989, aos 16 anos, sua família deu um jeito de comprar um Fórmula Ford para ele correr no Brasil. O carro era usado e um tanto despretensioso, mas o destino se encarregou de dar uma forcinha e a transportadora oficial deixou seu monoposto cair do caminhão. O resultado foi um carro novinho em folha para o jovem Rubens. Ele retribuiu o presente do destino com uma vitória em sua primeira corrida na categoria e o terceiro lugar no campeonato.
Sua performance, usando um termo que está na moda, diferenciada, rendeu-lhe a oportunidade de se mudar para a Europa, onde disputou o Campeonato Europeu de Fórmula Opel. Mas as coisas ainda eram difíceis e as condições só permitiam que ele fosse sozinho desbravar um novo mundo, o velho mundo. Neste ano, 1990, aprendeu a falar italiano, foi campeão, mas dormia na garagem da equipe com um cachorro e só podia guiar porque usava a carteira do seu pai, que além de se parecer muito com ele, tem o mesmo nome e também nasceu no dia 23 de maio. E há quem chame isto de coincidência.
No ano seguinte mudou-se para a Inglaterra, onde defendeu a equipe West Surrey Racing, na Fórmula 3. Sem conhecer o idioma, seu melhor amigo era um surdo-mudo, que devia saber muito bem pelo que ele estava passando. E mais uma vez ele foi campeão estreando em uma nova categoria. Desta vez o mais jovem até então.
Em 1992 disputou o Campeonato Europeu de Fórmula 3000, que era a principal porta de entrada para seu principal sonho, a Fórmula 1. De volta à Itália e finalmente morando bem, Barrichello não contava com um carro dos mais competitivos, mas o terceiro lugar no campeonato, aliado a todo o seu histórico, abriu os olhos das equipes da principal categoria do automobilismo para aquele paulistano torcedor do Corinthians.
Em 1993, estreando pela Jordan-Hart, ele estabeleceu quatro objetivos para sua carreira: 1º - conquistar pontos; 2º - chegar ao pódio; 3º - vencer uma corrida; 4º - ser campeão mundial de Fórmula 1.
O primeiro objetivo conquistou ainda na primeira temporada, no Japão, com dois pontos. Antes disso, porém esteve muito perto de um feito extraordinário, quando no GP da Europa, em Donington Park, na Inglaterra, mesma prova em que Ayrton Senna fez a primeira volta mais espetacular que já vi e chegou a dar uma volta no segundo colocado Damon Hill, Barrichello estava em segundo e quase conquistou seus dois primeiros objetivos na Fórmula 1 em uma só corrida, mas o carro não aguentou. (vale a pena ver a volta do Senna http://www.youtube.com/watch?v=1BzSSfJ7Gpw)
O pódio chegou em abril de 1994, pouco antes de sofrer o pior acidente e a maior perda de sua vida no mesmo fim de semana, em San Marino. Seu acidente brutal no treino de sexta-feira e a morte de Roland Ratzenberger na classificação do sábado (http://www.youtube.com/watch?v=yip0UwGCGIk) foram o início de três dias que ficarão marcados na história do automobilismo e do esporte brasileiro, pois culminaram com o desaparecimento do maior gênio que o esporte brasileiro já produziu, Ayrton Senna.
Considerado um dos mais promissores pilotos de sua geração, em 2000 Rubinho foi para a Ferrari, onde ficou por seis temporadas, sendo o segundo colocado na classificação geral por duas vezes, em 2002 e 2004. Lá também conquistou 9 vitórias, 25 segundos lugares e 21 terceiros.
Em 2005 decidiu buscar novos ares, onde pudesse ao menos lutar por seu quarto e último grande objetivo na Fórmula 1. Hoje está com 37 anos de idade e mais competitivo do que nunca, brigando realmente pelo título mundial. Corre por amor, não precisa do dinheiro e não precisa da fama, mas se submete à dura vida de piloto de corrida por acreditar em si e para seguir em busca de seus sonhos.
Claro que uma carreira não é feita apenas de brilhantismo, e os erros a mais de 300km/h aparecem muito mais do que em um escritório ou um estúdio com ar-condicionado. Os erros fazem parte da vida dos Rubens, dos Denis, dos Carlos, das Andréas, das Márcias e até dos Ayrtons, mas a virtude está em aprender e dar a volta por cima, como muito bem está fazendo o Barrichello, com ou sem título.
Minha torcida segue com ele, e também aposto minhas fichas...